quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Estudo revela que rios de Salvador têm baixa qualidade ambiental





Maiza de Andrade | A TARDE


Manuela Cavadas | A TARDE



Rio Pituaçu, perto da Avenida Gal Costa, em péssima situação


A primeira lição dos calouros de engenharia sanitária e ambiental da Universidade Federal da Bahia (Ufba), deste ano, foi a de reconhecer que há rios em Salvador. Na sua primeira aula com a turma, o professor Luiz Roberto Santos Moraes espantou-se ao ver que eles não sabiam dizer o nome de nenhum rio da cidade. 'Isso é porque, na compreensão deles, não há rios e sim, esgotos. Não é esgoto, não. É rio', lembra o professor titular, doutor em saneamento ambiental.



A ideia de que não há rios e sim esgotos correndo para o mar é reforçada pelo fato de que os principais cursos d´água de Salvador apresentam baixa qualidade ambiental. É o que revelou a pesquisa Qualidade Ambiental das Águas e da Vida Urbana em Salvador realizada pelo Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social - Ciags, da Escola de Administração da Ufba com recursos de R$ 97 mil do CNPq.



Coordenada pela socióloga Elizabete Santos, a pesquisa ganhou a forma de um rico almanaque que será lançado nesta segunda-feira, no salão nobre da reitoria da Ufba, no Canela às 9h. A pesquisa, que durou três anos, produziu um amplo monitoramento da qualidade da água dos rios e organizou as informações sobre as 12 bacias hidrográficas do município. Outra contribuição da pesquisa foi a proposta de uma nova delimitação do espaço urbano que eleva para 160 (atualmente são 60) o número de bairros, fruto de 71 reuniões com comunidades e da aplicação de 21.175 questionários.



O estudo aponta que, “apesar dos esforços em implantação de um sistema de esgotamento sanitário em Salvador e sua região, o comprometimento dos nossos rios ou o que deles restou, resulta do lançamento de águas servidas, ou seja, da incompleta implantação da rede coletora de esgotamento sanitário na cidade”.



De acordo com os dados do monitoramento, nenhum dos 12 principais rios da cidade apresentou Índice de Qualidade Ambiental (IQA) ótimo. Somente os rios Cobre e o Ipitanga atingiram o índice regular e bom.



Para o professor Moraes, não adianta investir somente em estrutura física, ou seja na implantação da rede. 'Se o cidadão não for convencido para ligar seu esgoto à rede, o problema vai continuar sempre', observa. 'Nossos rios e fontes estão sendo degradados pela ocupação e uso do solo desordenados, pela não-implantação integral, em pleno século XXI, de um sistema de esgotamento sanitário que atenda a todas as áreas urbana e camadas sociais', conclui a pesquisa.


Poluição matou os rios de Salvador


Adilson Fonseca A Tarde - BA June 2001



Na Lagoa da Paixão, no subúrbio de Coutos, do lado direito da rodovia BA-528 (Estrada Paripe/Base Naval), o banho de rio ainda faz parte das atividades de lazer da comunidade local. A lagoa é a principal nascente do Rio do Cobre, que forma parte do sistema de abastecimento de água de Salvador, através da barragem do mesmo nome, e corta todo o Parque de São Bartolomeu, até desaguar na Enseada do Cabrito, na Península de Itapagipe, orla sul de Salvador.



O Rio do Cobre é o único, dos que existem em Salvador, que ainda tem vida, mesmo assim com uma série de riscos, por causa do processo de devastação da vegetação em suas margens e, principalmente, dos esgotos lançados por dezenas de invasões ao longo do trajeto de mais de dez quilômetros até a foz. As palafitas de Novos Alagados é a maior delas e neste trecho o rio se transforma em um córrego de puro esgoto, que contribui para a poluição da Enseada dos Tainheiros.



Outros rios em Salvador - Rio das Pedras, Trobogy-Jaguaribe, Paraguari, Camurugipe e seus afluentes -, ou desapareceram, como os vários cursos de água na área da Avenida Paralela, ou foram transformados em canais de esgotos e confinados, na maior parte do seu trajeto, em galerias subterrâneas, como os rios das Tripas e Lucaia.



Imagens perdidas



Dos grandes rios que cortavam a cidade no sentido oeste-leste, nenhum deles oferece condições de balneabilidade e piscosidade, muito menos de potabilidade. Tomar banho ou beber de suas águas é altamente arriscado para a saúde. O maior deles, o Camurugipe, percorre 14 quilômetros, desde a sua nascente, em Boa Vista de São Caetano, até a foz, na Praia do Costa Azul, num trajeto de intensa poluição, causada, principalmente, por despejos dos esgotos residenciais de dezenas de favelas que existem dos dois lados de suas margens.



O Camurugipe já foi um dos principais mananciais de abastecimento de água da cidade, até a década de 70, quando o último dos seus diques, o do Calabetão/Mata Escura, foi fechado, por ter se transformado em uma imensa bacia de esgotos. Igual situação aconteceu com o Rio das Tripas, que é um dos principais afluentes do Camurugipe, encontrando-o na altura da Rótula do Abacaxi. Recebendo esgotos das encostas de Brotas, do IAPI e da Cidade Nova, o rio, que tem outro afluente no Largo dos Dois Leões, corre, a maior parte do trajeto, em galerias subterrâneas, exalando mau cheiro nos trechos a céu aberto.



Na Paralela, o Rio das Pedras foi dividido pela Avenida Luís Viana Filho (Paralela) e suas nascentes, nos fundos do quartel do 19º BC do Exército, no Cabula, só resistem devido à presença da unidade militar, que mantém preservada a mata em volta do quartel, usada como campo de treinamento. Contudo, a partir do Imbuí até desembocar na Praia da Boca do Rio, o rio alterna trechos de alta poluição, com outros que ainda oferecem condições de vida para a fauna e flora. Na área que vai do Imbuí até Mussurunga, margeando a Avenida Paralela, vários pequenos rios foram represados e transformados em lagoas, restando apenas, praticamente morto, o Trobogy, que nasce em Águas Claras com o nome de Cascão, sendo denominado Jaguaribe quando atinge a orla, na altura de Piatã.



Meio ambiente



As nascentes que resistem



Rio Camurugipe - Nasce na Boa Vista de São Caetano e chega a ter 20 metros de largura no trecho próximo ao Iguatemi. Recebe os afluentes da San Martin, IAPI (Loteamento Antônio Balbino), Barros Reis (Rio das Tripas) e forma, com um dos braços, o Rio Lucaia. Deságua na Praia do Costa Azul.



Rio das Pedras - Nasce nos fundos do 19º BC, entre o Pernambués e o Saboeiro. Corta a Paralela na altura do Imbuí e desemboca na Praia da Boca do Rio.



Rio do Cobre - Nasce em Coutos (Lagoa da Paixão), acompanhando a BA-528 (Estrada Paripe/Base Naval), formando a primeira represa em Pirajá e, depois, em Ilha Amarela, já dentro do Parque de São Bartolomeu. Deságua na Enseada do Cabrito, um dos estuários da Península de Itapagipe, na Cidade Baixa.



Rio Trobogy - É chamado de Rio Cascão a partir da sua nascente, em Águas Claras, atravessando a Via Regional e indo desaguar na Represa de Ipitanga. A partir dai recebe o nome de Rio Trobogy até a Paralela, quando é denominado Rio Jaguaribe. Deságua na Praia de Piatã.



Rio Paraguari - Nasce em Fazenda Coutos (Barreiro), a partir de várias lagoas na Estrada Velha de Periperi. Deságua na Praia de Periperi, no subúrbio ferroviário.



Rio Lucaia - É um braço do Rio Camurugipe, a partir do Iguatemi. Recebe águas de córregos de Brotas e vai desaguar no Largo da Mariquita, no Rio Vermelho.



Rio das Tripas - Nasce na Barroquinha (subterrâneo, em galerias) e recebe águas de afluentes em Sete Portas e Dois Leões, até encontrar o Camurugipe, no Largo dos Dois Leões. A maior parte corre em galerias subterrâneas.



Meio ambiente



Camurugipe: 14 km de esgoto



Quem vê a lavadeira Rosalina Santos Soeiro, 45 anos, retirando com um balde água de uma cisterna dos fundos de uma casa, no fim de linha de ônibus do bairro de Boa Vista de São Caetano, não imagina que ali nasce o rio mais poluído de Salvador: o Camurugipe. Ainda hoje, além dessa, outras quatro fontes fazem parte das nascentes do rio, de onde a população retira água cristalina para uso doméstico, contrastando com a realidade de esgotos, dez metros adiante, e que se estende por 14 quilômetros, até a Praia do Costa Azul, na orla marítima.



O Camurugipe corta bairros densamente povoados, como Boa Vista de São Caetano, Campinas, Calabetão, Bom Juá, Retiro, Rótula do Abacaxi, Pernambués, Stiep e Costa Azul. A área de influência do rio é o principal campo de trabalho para as obras do Bahia Azul, que procura eliminar os pontos de lançamentos de esgotos, desde a sua nascente até o Iguatemi, onde é desviado, através de um interceptor, para o leito subterrâneo do Rio Lucaia, até uma estação de tratamento, no Rio Vermelho, e daí para o mar, através de um emissário submarino. Na área de sua nascente, o Camurugipe forma dois importantes diques, que até meados deste século integravam o sistema de abastecimento de água de Salvador. O principal era o Dique de Campinas de Pirajá, ligado ao Dique da Boa Vista, ou do Ladrão) e deste, atravessando a BR-324, à represa do Calabetão/Mata escura. Recebe as águas de antigos afluentes da Bacia do Calafate (Fonte da Bica, na San Martin), de outro, que desce da encosta do bairro do IAPI, e mais adiante, na Rótula do Abacaxi, do Rio das Tripas. No Iguatemi, forma um outro braço, o Rio Lucaia, e segue (agora em leito seco), até a orla, desaguando no Costa Azul.

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